Fala galera!
É com muito orgulho que trago para vocês a entrevista com o super talentoso artista brasileiro Leo Santos!
Para quem não conhece muito o rapaz, basta dizer que ele hoje trabalha na Pixar.
Aqui vai a primeira parte dessa super inspiradora conversa, espero que gostem!
Abraços,
Hey guys!
With great pleasure I bring to you the first part of the interview with the super talented Leo Santos! Blur and Pixar are part of his life so dive into the words of this incredible guy that make it! There ll be 2 texts here, one in portuguese and scrolling down the english part!
Thanks,
Como começou a sua paixão por animação? Você se via como um animador 2D?
O que te inspirou a procurar conhecer animação?
Desde que eu estava fazendo faculdade de Design eu já estava pensando em
maneiras de entrar no mercado de animação, e estudando por conta própria tudo o
que eu podia. Nessa época era mais difícil estudar animação 3D, pois os
softwares disponíveis eram muito limitados e o máximo que dava pra fazer com
personagens eram bonecos feitos de bolinhas, a não ser que você tivesse
US$50000 pra comprar um Alias Power Animator mais outros US$50000 por uma
estação Silicon Graphics.
Antes disso, eu fiz um ano de faculdade de Cinema na UFF, e comecei
a me interessar por 3D quando eu percebi que era uma ferramenta interessante
para explorar câmeras, cortes, cenários e iluminação, sem me dar conta que isso
seria anos mais tarde conhecido como "Previs" ou Layout. Fazer cenários
estáticos e experimentar com câmeras e edição era bem mais viável na época, e
foi a minha porta de entrada. Mas foi logo em seguida que computação gráfica
teve um boom, seguindo o lançamento de Toy Story, e eu comecei a experimentar
com animação de personagens também.
Em paralelo a isso tudo, eu estava estudando animação 2D e desenhando
bastante, pilhas de papel todo dia. Eventualmente, o caminho de animação 3D
pareceu mais viável, por ser uma combinação de talentos que eram úteis na hora
de procurar um emprego. Animação de personagens era um mercado minúsculo no
Brasil, mas a área de Motion Graphics tinha mais oportunidades.
Como foi sua entrada no mercado de trabalho no Brasil? Você fez alguns
jobs bem legais por aqui, inclusive o clipe que ficou muito conhecido na época
do Frejat. Essa exposição te ajudou a ver novos horizontes?
O meu primeiro emprego de verdade na área, depois de uns dois estágios,
foi na antiga equipe de animação e design da Multirio. Eu fazia um pouco de
tudo, design, animação, rigging, iluminação, composição e edição, e essa era a
realidade do mercado na época, não havia muita especialização. O clipe do
Frejat eu fiz como um freelance com o estúdio Consequência ao mesmo tempo em
que estava trabalhando no Twister Studio. Era uma correria incrível,
trabalhando em média umas 16 horas por dia. Eu me lembro vagamente de achar que
seria demitido na Twister porquê eu chegava todo dia tarde e sempre
extremamente cansado! Mas esse foi o único modo que eu encontrei de trabalhar
com animação de personagens, ao invés de motion graphics, que também é algo que
eu sempre gostei muito, mas não era a minha paixão. Com isso, eu consegui fazer
uma demo reel bem tosquinha pelos padrões atuais, mas que foi o suficiente para
ganhar destaque em sites de CG e levaram a um convite do Blur Studio.
A entrada no mercado americano, você acha que o timing foi muito
valioso? Você começou a trabalhar por lá primeiro com publicidade? Como foi a
experiência de viver de publicidade fora do Brasil? Mesmos prazos? Viradas de
noite ou respeito ao profissional?
Na realidade o que eu fiz de menos na Blur foi publicidade. Meu primeiro
projeto foi fazer layout e animação para um DVD de Natal do Mickey, no qual eu
trabalhei um ano. Ao terminar esse projeto eu fui promovido a supervisor de
animação e passei a trabalhar em vários "cinematics" para jogos, e
foi isso que eu fiz por vários anos, até começar a dirigir uma campanha de
comerciais de biscoitos no meu último ano na Blur. O timing foi perfeito para
mim, porquê o estúdio estava em um processo de crescimento, indo de 25
funcionários quando eu cheguei a cerca de 100 quando eu saí, e repensando todo
o processo de animação ao longo desses anos. Foi legal fazer parte disso.
O mercado de cinematics é um pouco ingrato, já que o cliente sempre quer
'Lord of the Rings", mas feito em 2 meses. Teve muitas viradas de noite
sim, infelizmente, mas conforme o estúdio foi amadurecendo as coisas
melhoraram. No final, o trabalho mais tranquilo que eu fiz foi justamente a
campanha comercial, que tinha um "schedule" longo e foi bem mais
fácil de planejar (eram 10 comerciais por temporada, e dava pra reutilizar
muitos assets de um para o outro).
Blur, um nome que você ajudou a construir. Como foi os primeiros anos
dessa produtora com você lá? você viu a empresa crescendo, mostrando seus
primeiros projetos. Qual era o espírito de equipe por lá e o que você acha que
foi o ponto fundamental para eles virarem quem são hoje?
A Blur já existia há alguns anos quando eu cheguei, mas ainda eram
pequenos e não tinham uma "pipeline" desenvolvida, o trabalho era
feito basicamente do mesmo modo a que eu estava acostumado no Brasil. Conforme
o nível de exigência aumentava e os trabalhos ficavam mais complexos, a
necessidade de se reorganizar o processo e desenvolver uma pipeline rápida e
enxuta era um preocupação permanente. O estúdio se reinventava constantemente,
e isso tinha um lado bom, de aprimorar o processo, e um ruim, de não haver consistência
entre projetos, o que levava a várias ineficiências. Foi um aprendizado
enorme para mim.
Em um estúdio daquele tamanho o impacto do seu trabalho no resultado
final é grande, é mais fácil se destacar e isso funciona a seu favor, mas o
contrário também acontece. Isso é uma dinâmica diferente de estúdios grandes,
onde o trabalho é mais especializado e a influência de um artista no resultado
final é mais diluída. O foco da Blur nos artistas permitiu que eles se
mantivessem eficientes e rápidos, mas ao mesmo tempo colocou um peso enorme nos
ombros dos próprios artistas, que geralmente trabalhavam muito em troca desse
controle do resultado final. É um equilíbrio difícil de se alcançar.
Já estabilizado no mercado externo, quando foi o ponto em que você se
sentiu preparado para mandar o reel para a Pixar? Existe o momento certo ou é
uma combinação de momento e preparo?
Depois de oito anos de trabalhos exaustivos e difíceis na Blur, a
motivação maior foi o cansaço! A promessa de um trabalho de qualidade com tempo
adequado para ser executado sempre foi tentadora, mas eu ainda sentia que
estava aprendendo muito na minha posição na Blur. Quando o equilíbrio entre
cansaço vs. aprendizado começou a pender para o lado errado, eu senti que era
hora de tentar a Pixar. Três rounds de entrevistas via Skype depois, lá estava
eu indo para San Francisco fazer o último round de entrevistas em pessoa.
Como foi passar pela guarita da Pixar pela primeira vez como
funcionário? Qual o tamanho do desafio de estar na equipe mais criativa e
inovadora de animação das últimas décadas?
Só o que eu conseguia pensar era "Será que vão me barrar no portão
porquê eu ainda não tenho cartão?"
Quando o sonho passa a ser realidade, você se acostuma com o dia a dia de
trabalho no estúdio ou sempre há uma coisa que te lembra de como aquele lugar é
especial?
Eventualmente os prazos e problemas a serem resolvidos transformam o
deslumbramento inicial em um trabalho como qualquer outro. Trabalho sempre tem
problemas, nenhum lugar é perfeito, mas mesmo assim é sem sombra de dúvida o
melhor lugar onde eu já trabalhei, e há sempre algo acontecendo no campus do
estúdio que me lembra disso, de aulas gratuitas, sessões de filmes, áreas de
esportes e recreação, a eventos bizarros e divertidos. Um dia desses puseram o
John Goodman, que estava no estúdio gravando a voz do Sully, para ler um
relatório técnico de produção num staff meeting. Logo em seguida, os diretores
de um dos filmes novos tocaram "Jingle Bells" com sininhos amarrados
nas pernas e braços, na frente de uma audiência incrédula.
Mas, pessoalmente, a melhor coisa é poder trabalhar com alguns dos meus
ídolos. Durante o meu trabalho em Brave, eu frequentemente tive oportunidade de
lidar diretamente com o diretor, Mark Andrews, discutindo diferentes soluções
para shots e sequências do filme. De vez em quando eu tinha que me lembrar que
aquele sujeito engraçado e gente boa foi o supervisor de estória do Iron Giant
e de Os Incríveis, dois dos meus filmes de animação favoritos. Essa foi a razão
maior de eu querer vir fazer Layout num estúdio como a Pixar, e estou
extremamente satisfeito com o resultado até agora.
ENGLISH VERSION!
How did your passion for animation begins? What
inspired you to dive into the animation world?
Since I was at Design school, I was planning a way
into the animation business, so I kept self thought studying any how I could.
In that time it was pretty though to study 3D animation because the available
softwares were pretty limited not to say expensive. You would need to spend US$
50,000 just to by an Alias Power Animator and spend other US$ 50,000 for a
Silicon Graphics.
Before Design School, I did one year of Cinema college at UFF and that’s
where I began to feel a connection with 3D once I noticed that it was a
powerful tool to explore camera movements, cuts, backgrounds and lighting, but
at that time I didn’t know that this area of the business is called “Previs” or
layout. So at that moment, do some still backgrounds and experience some
cameras and edits was pretty possible so that was my way in.
In the other hand I was studying 2D animation and having a lot of time
spent at sketching, actually it was tons of paper sheets every day! Eventually
the 3D animation showed to be a clearer patch once it was a combination of
multiple tasks that would help me getting a job. Character animation was almost
null at that time at Brazilian industry but the Motion Graphics was much more
accessible.
How did you get you first chance
to work in Brazil? You did many cool jobs around here, including a music clip
from the artist Frejat. This highlight helped you finding new horizons?
My first job in the
business, after some small internships, was with the ancient Multirio animation
and design team. Eu did a bit of everything, design, animation, rigging,
lightning, composition, editing and that was the reality of that moment. There
wasn’t space for specialists. The Frejat’s music clip I did as a freelance at
Consequência Studioand at the same time I was working at Twister Studio. I
remember it was pretty insane working 16 hours a day. I vaguely remember that I
thought I was going to get fired from Twister because I was late every single
day and I was burned out completely! But that was the only way I found to get
to work with character animation instead of motion graphics, which by the way I
always enjoyed to do but It wasn’t my passion. With all this crazy rush, I got
myself a crude demo reel (if you put it in today’s terms) but at that moment, I
got highlighted at may CG sites and with that I got the invitation to work at
Blur Studio.
Regarding your entrance in US
business, did you think that your timing was a lucky strike? You began your
carrer there working with adds? What about the experience leaving outside
Brazil’s business mind? The deadlines were the same? Working until the next day
without sleeping or you notice a respect with the professional?
Actually what I least
did at Blur was publicity. My first job there was layout and animation for
Disney’s Mickey’s Special Christmas DVD, it lasts one year. After that I got
promoted as a animator supervisor and so I started working with many cinematics
for games and that’s what I done for many years, until I got a cookie campaign
in my last year of Blur.
The timing was
perfect for me, when I got into Blur they had only 25 employees and they were
growing pretty fast. When I left Blur they had 100 employees. So it was a great
deal for me to be part of that.
The cinematic
business is a bit ungrateful, because almost all the clients wants “Lord of the
Rings” done in a couple of months. We had a lot of night turns indeed but as
the studio continued to grow, things got better and better. At the end, the the
most easy going work I’ve done there was the cookie commercial. (it was 10
commercials per season so we could re use many of our assets).
Blur, a name you helped to build.
How was your first years at the Studio? You witnessed the growth and the first
projects. What was the spirit there? And what was the fundamental stone that
made them who they are today?
Blur actually was
running before I got there, but at that time they were quite small and didn’t
have a pipeline completely developed, the job was done basically the same way I
was used to do in Brazil. But as the bar level start to raise, the jobs got
more complex and the necessity to reorganize and develop a better and
structured pipeline was one of the main concerns. Blur was reinventing itself
constantly and that was something good in one hand because we were always
improving but in the other hand at that time we didn’t have consistency between
jobs, which leaded us to inconsistent workflow, but it was a huge learn for me
and for the company.
In such a small
studio as Blur was at that time, one man’s job makes a lot of difference and
it’s a great chance to step up and show yourself but the opposite is true, the
pressure was set in everyone’s work. Blur’s focus at the artists allowed them
to keep their pace efficient and swift but the same time demanded a lot of
commitment among the artists, which they (artists) like to do so because they
could control the results better. So it’s a difficult balance to stabilize.
At bigger studios,
the work is much more vaporized making the whole process be more important than
one man’s job.
With your place already set on
the business, when you felt it was time to go even bigger? When you felt it was
about time to try to hit Pixar? Do you think that exists “the right moment” or
it’s a mix of timing and be prepared?
After eight long and
exhausted years at Blur, the real motivation was the tiredness!
The idea of a job
that could give you quality of time to execute your work was always my goal,
but I felt that I was learning so much at Blur that it wasn’t just the moment
to leave there. When the balance between tiredness and learning started pending
at tiredness I decided it was time to see new places. Pixar was the way! So
after three rounds of Skype interviews I went
to San Francisco to do the last round of interviews face to face.
How did you feel when you crossed
Pixar’s gate for the first time as an employee?
Well, to be honest,
all I could think of was “What if the stop me because I don’t have my card
yet?”
When the dream comes true, you
get used to a Day by Day work at Pixar or there’s always something that reminds
you that you are at a special place?
Eventually the
reality shows up and deadlines and other problems needs to handled, so the
overwhelming feeling is replaced by the feeling that you have to work as if it
was anywhere else.
Work will always be
work, no place is perfect but Pixar is definitely the best place I ever worked
at, and there’s always things going on that reminds me this. For example the
free classes, movie sessions, sport areas and the bizarre and yet crazy funny events.
One of these days, John Goodman was at Pixar recording the voice for Sully, so
he was asked to read a technical production report at a staff meeting. Just
after that, the directors of the new movie started to play “Jingle Bells” with
small bells strapped at arms and legs, in front of a disbelieving audience.
But right now the
best thing is that Im surrounded by my idols! During my work at Brave, I
frequentely had the opportunity to deal in person with director Mark Andrews,
discussing ways and possibilities for shots and hole sequences. Sometimes I had
to step back and remember that that funny and gentle guy was actually the head
of story at Iron Giant and The Incredibles, two of my favorite movies of all
time. This is the main reason I came to do Layout at Pixar and Im completely
satisfied with the results until now!
Here is the end of
the first part of the interview with Leo Santos, stay tuned for the next part!